O ano de 2021 se inicia cheio de incertezas na sociedade em relação à segurança, à saúde e à educação. Somado a isso, ainda temos um cenário que se agrava por conta do famoso jeitinho brasileiro. Constantemente visto como virtude ou mesmo inofensivo, na verdade apresenta um preço alto atualmente, resultando inclusive em mortes por conta da Covid-19. Cabe aqui uma reflexão quando transferimos a responsabilidade aos governantes sem lembrar que temos os nossos deveres para cumprirmos.
A pandemia está deixando claro as mazelas do Brasil nas mais diversas áreas, deixando ainda mais claro o perfil de individualismo da população. Somos críticos ferozes da falta de uma política séria e, ao mesmo tempo, incapazes de seguir regras simples como o uso da máscara, que visa a proteção de cada indivíduo, ou mesmo evitar aglomerações para que a contaminação não seja ampliada.
Como querer a evolução de um País com um comportamento desses? Estamos longe de conseguir avançar como nação se não melhorarmos como cidadãos. Respeito, ética e educação são essenciais e começam em casa.
O que jeitinho brasileiro e violência têm em comum?
E falando de violência, o que o jeitinho brasileiro tem a ver com isso? Tudo o que plantamos, colheremos. O Rio de Janeiro, por exemplo, retrata essa realidade. Vimos os últimos governadores presos por envolvimento com corrupção, e a violência tem alcançado números impressionantes, criando um terreno fértil para o crime. A informalidade é conveniente para o poder público, que fecha os olhos para reduzir a pressão no governo quando o assunto é desemprego ou educação, que ao invés de melhorar o nível de ensino, reduz a média e aceita a aprovação automática.
Ou seja, ninguém mais é obrigado a ensinar ou aprender, mas com jovens cada vez menos capacitados e empresas buscando candidatos com conhecimento, é preocupante o que iremos colher e o que já estamos colhendo. É o jeitinho brasileiro, que está e vai continuar nos custando muito caro. Deixamos de valorizar o básico.
De uma juventude que entende tudo do mundo virtual, mas é incapaz de escrever um texto sem auxílio do corretor ortográfico e que não sabe ouvir “não” e acaba não tendo limites, saltamos para problemas como o feminicídio crescente, os acidentes de trânsito por embriaguez ao volante aumentando, o uso de entorpecentes para relaxar, apenas alguns exemplos de uma “plantação” errada.
Jeitinhos vs. irresponsabilidade
Será que podemos reclamar da violência que vivemos e achar que não temos nada a ver com isso? E na vida corporativa? Temos a responsabilidade de cumprir metas da empresa e para tal, existem processos com regras claras, que muitas vezes não são cumpridas pelos próprios criadores delas, fazendo lembrar o velho jargão que os “fins justificam os meios”. Está certo? Até onde vale cumprir a meta a qualquer custo? Muitas empresas negligenciam as regras e não percebem os riscos que estão assumindo.
Somos extremamente críticos ao apontar erros alheios, mas a todo momento falhamos quando nos convêm, tanto como cidadão ou gestores, que permitem os jeitinhos e alimentam a cultura do “foi só dessa vez” ou “que mal há nisso”. Pare e pense quantas vezes por dia deixamos de ser éticos. O simples ato de comprar um produto no mercado informal, o famoso “camelô”, sem saber da origem do produto por preço incompatível com o razoável pode parecer aos olhos de todos inofensivo, mas já pensou como aquele produto foi parar ali?
Existe um nicho de mercado altamente rentável e podemos estar alimentando o crime de roubos de cargas, descaminho ou contrabando, crimes contra economia pública que afeta diretamente a arrecadação de impostos e que refletirá nos investimentos nas áreas de saúde, educação, segurança, entre outras. Veja como um simples ato de comprar de um produto na informalidade pode ser nocivo. Isso significa que a ética é um exercício diário e que não pode deixar de ser praticada para atender interesses pessoais.
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Eduardo Masulo – É consultor sênior na ICTS Security, consultoria e gerenciamento de operações em segurança, de origem israelense.