O roubo de cargas, apesar de não ser algo novo, continua surpreendendo pela facilidade como ocorre. E, com a movimentação crescente em função da pandemia, um cenário que deve se ampliar com a retomada econômica, o problema deve tomar novas proporções, situação que não envolve apenas os produtos roubados, mas também uma crise ética vivida atualmente. Somente no ano de 2019, foram quase 20 mil casos de roubos no País, que representa a impressionante marca de duas cargas roubadas por hora, segundo dados Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística). Com a ascensão no volume de entregas, como será daqui por diante?
Um dos aspectos que devemos considerar é que muitos desses roubos começam no interior das corporações quando não são adotadas posturas para evitar os riscos. Isso pode ocorrer quando o cadastro de um novo cliente é realizado ou as contratações de mão de obra ocorrem sem as devidas precauções. Essas são possíveis brechas de segurança que ocorrem dentro das empresas. E a falta de controle percorre outros corredores, como a subutilização de sistemas, falta de treinamentos, incapacidade técnica ou até mesmo por conflito de interesses.
As operações logísticas não podem se privar de terem processos eficazes, capazes de contemplar e proteger todo o ciclo logístico. A ausência ou controles frágeis nas operações são cenários perfeitos para potencializar perdas. Bandidos não precisam correr atrás de cargas, uma vez que elas vêm ao seu encontro em períodos e horários favoráveis a ataques. A busca pelo alcance de metas e pelo market share a qualquer custo fazem os negócios negligenciarem os riscos. Este é o lado oculto do roubo de cargas.
Os prejuízos acabam repassados no valor final dos produtos disponíveis nas prateleiras e em negociações de fretes menos atrativos, induzindo o transportador, por sua vez, a retardar ou não realizar manutenções, aumentando também os riscos de acidentes. E, no final das contas, tudo acaba impactando no cliente.
Cumprir a quota de venda sem considerar os riscos envolvidos na definição de horários e regiões de atendimento, assim como nas jornadas de trabalho, são processos que passam por cima de uma realidade presente, que é o submundo do crime, que traz riscos às vidas dos motoristas, às cargas e aos ativos de transportadores, tornando-se fatores que facilitam as perdas. Fato é que os gestores, quando pressionados por metas, podem assinar sentenças de resultados catastróficos, que são irreversíveis quando o assunto é entregar a qualquer custo.
Por outro lado, profissionais que desconhecem ou não são capacitados tecnicamente, subutilizam ferramentas de roteirização, por exemplo, que são de extrema importância dentro do mundo logístico. O planejamento de entregas implica diretamente no resultado entre o sucesso ou o fracasso, entregas efetivadas ou clientes não atendidos, que passarão a buscar na concorrência mais preparada sua garantia de entrega. Operações que não têm em seus sistemas de rotas estratégias diferenciadas e profissionais preparados pagam altos preços e amargam prejuízos incalculáveis.
Neste cenário de perdas, é possível afirmar que os gestores de segurança devem ser a alavanca de prevenção e produtividade, com visão holística que garanta o processo de ponta a ponta, resultando em uma operação saudável, clientes satisfeitos e preços justos nas prateleiras para os consumidores finais. Como resultado, teremos o mundo ideal e real para o crescimento através da expansão de mercado dentro dos negócios.
Eduardo Masulo é consultor sênior na ICTS Security